quinta-feira, 4 de março de 2010

historia

Os homens e mulheres indígenas devem encontrar juntos, caminhos concretos que viabilizem atitudes responsáveis com relação aos seus direitos humanos e fundamentalmente à Saúde Reprodutiva e desenvolvam uma relação de gênero mais consciente, mais democrática baseada no conceito sobre sexualidade, conceitos que foram perdidos ao longo da colonização e néo-colonização. Nesse processo, novos conceitos dominantes e opressores foram impostos à relação de gênero que necessitam ser mudados.Homens e mulheres devem desafiar as relações desiguais de poder não só no campo da ação, como organizativo e institucional, objetivando a justiça social de gênero. O fortalecimento do poder das mulheres indígenas deve ser promovido dentro das organizações indígenas para que todos, principalmente os homens possam ter mais clareza sobre suas atitudes, comportamentos e empenhos.

A participação política das mulheres indígenas está muito aquém ainda, justamente por razões culturais. Sabemos que na colonização portuguesa os homens, para defenderam suas mulheres e crianças, as colocavam na retaguarda comunal e lá esse segmento ficou até hoje. é preciso resgatar a funcionalidade inicial das mulheres indígenas adotada antes do processo colonial. Ela tinha a decisão sobre problemas políticos, decisão sobre as assembléias, era venerada e tinha a última palavra. Quando os homens não suportaram mais ver suas mulheres escravizadas decidiam o suicídio em massa de um povo contra essa escravidão e colonização. Era um ato de protesto e todos eram atirados para baixo de um penhasco!!!! A solidão e o sofrimento das mulheres indígenas começaram com a migração por ação violenta aos seus povos. Juçara, esposa de Sepé Tiaraju, em 1756 ao ter seu marido assassinado pelos estrangeiros, iniciou sua caminhada sozinha, assim muitas mulheres indígenas, como a esposa de Galdino, de Marçal Tupã-y, a esposa de Hibes Menino, a esposa de Ângelo Kretã e muitas outras esposas anônimas, guerreiras como nossas avós e mães potiguaras que vem construindo e dando continuidade à cultura indígena, seja nas aldeias ou empurradas, violentadas para o lixo da sociedade envolvente, porque elas pobres, analfabetas, indígenas, nortistas ou nordestinas só encontrariam espaço de sobrevivência nesse lixo e na miséria. Vitória daquelas que conseguiram criar seus filhos e fazê-los dignos.

As mulheres foram alvo de perseguição masculina no processo de colonização. Elas eram arrancadas do seio de seu povo para servirem de concubina e escravas aos estrangeiros. Um desesperado líder indígena Kaiapó do Pará, atualmente contou que sua jovem esposa, havia partido com um homem branco, abandonando a família . Ela- anestesiada em sua consciência por ação neocolonizadora, queria os coloridos das cidades, os bens de consumo alheios à cultura indígena. Ela tem culpa? Não.
A responsabilidade é da política integracionista que paternalizou os povos indígenas até hoje. Mas quando nosso movimento pela conscientização do papel inicial da mulher indígena começou a causar polêmicas a partir de 1996, houve resistência de todos os lados. E, como mulheres, por querer saber o que aconteceu com os nossos avós que trabalharam para as falidas empresas que escravizaram a população indígena e deixaram centenas e centenas de mulheres grávidas, obrigadas a fugir de suas terras de sua família tradicional, é que sofremos muitas perseguições. Afinal o nosso silêncio ou nossa voz têm sexo! Os pais indígenas sabedores desta realidade gostariam de lançar suas jovens filhas para esses abutres?
Por outro lado, lamentavelmente, os homens indígenas por pressão histórica, continuaram mantendo suas mulheres na retaguarda e conseqüentemente eles, em contato com os colonizadores, acabaram adquirindo os seus maus hábitos e vícios, entre eles o de subjugar e desrespeitar a mulher, não esquecendo nós, que os piores caracteres, moralmente situando, foram os enviados para a Terra Santa, no início da colonização portuguesa.
Os direitos humanos das mulheres indígenas foram descritos em várias Conferências Nacionais e Internacionais, onde conseguimos espaços políticos para dar um grito de basta ao sofrimento secular de nosso povo, onde o racismo e a falta de apoio ao cidadão e cidadã indígenas são os motivos mais agravantes. As campanhas de solidariedade devem ser um veículo de luta para a efetiva conscientização da sociedade como um todo de que os povos indígenas são os primeiros habitantes deste país, as primeiras nações e como tal, devem ser respeitadas , veneradas, preservadas como patrimônio humano do planeta terra, ao invés de sermos racializadas , discriminadas, empobrecidas, excluídas social, histórico e racialmente. Que possamos ver um Estatuto do índio realmente voltado na prática para os direitos humanos dos Povos Indígenas, tanto na área de desenvolvimento, trabalho, saúde, educação, preservando o patrimônio cultural, o direito à propriedade intelectual, a biodiversidade indígena, a espiritualidade.
As mulheres indígenas, aos olhos da sociedade, estão abaixo do último degrau que compõe as camadas da sociedade. Indígenas, pobres, discriminadas, excluídas, INVISÍVEIS,
Mão -de- obra escrava em plantios de cana-de-açúcar, algodão e outros. Se estão próximas a mineradoras, são objeto sexual de garimpeiros ou mineradores, como muitas histórias que já ouvimos dos YANOMAMIS, em Roraima. Se estão nas cidades, empurradas por alguma razão social e política de sua nação, tornam-se, prostitutas nas grandes cidades, objetos de tráfego internacional de mulheres ou empregadas domésticas ou operárias mal remuneradas. Urge um trabalho de conscientização dentro das aldeias contra a violência doméstica, sexual , o estupro, o assédio , o alcoolismo que resulta nas violências interpessoais, nas intrigas, nos distúrbios psicológicos, nos suicídios. Um programa imediato referente aos direitos reprodutivos e saúde integral devem ser implantados na prática, pelo governo e pelas ONGS. Urge um trabalho de conscientização nessas nações que mais sofreram os resultados maléficos da neocolonização, como povos Ressurgidos e junto aos Quilombolas. Essas nações têm consciência de sua identidade indígena o que é uma vitória, mas precisam de apoio em todos os sentidos. E isso é de responsabilidade governamental, tendo o apoio das Ongs e parcerizadas com apoio tecnológico, oriundo de entidades nacionais e internacionais.Outro estudo importante é sobre povos indígenas emigrados e suas conseqüências.
As organizações indígenas devem finalmente, desenvolver programas de formação de gênero, interagindo a cultura indígena com a diversidade, identidade, questão do poder e a transformação, criando assim seus objetivos e metodologias próprias. Que possam promover a justiça social de gênero e conseqüentemente fortalecer o papel da mulher indígena em todos os segmentos.

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